sábado, 22 de agosto de 2015

Num pedaço da minha alma


Pensei em escrever-te um pedaço da minha alma. 
 
Quero dizer-te que em cada segundo preso às tuas palavras, tu tinhas o meu olhar. Quero dizer-te que em cada minuto usado em conversação, tu tinhas a minha audição. Quero dizer-te que em cada hora usada a pensar em ti, tu tinhas o meu coração. Tu tinhas, tu tens e tu irás continuar a ter, todo o meu ser.

Na tua presença eu recebia pouco, mas tinha tudo o que precisava. Na tua ausência eu recebo imenso. Angústia. Raiva. Saudade.

É triste e magoa, é ardente e malevolente, é poderoso e perigoso. É um caminho obscuro sem direcção mas repleto de desvios, cada um com a sua cruz, com a sua sina. É como acabar a água a um aventureiro que se encontra em pleno deserto. É ficar com tolerância zero a lamentos, ser imbecil para aquele que estende a mão, pensar que toda a miragem é real e que toda a maçã vem de graça, sem veneno. É perder o chão e não ter asas para voar.

Sumiste. Eu lutei, dei de mim aquilo que não sabia ter, prevaleci o mais que pude, contra os ventos do norte, contra as chuvas de um inverno rigoroso. Lutei contra o vazio que passou a existir em mim, na falsa esperança que residia numa caverna aqui algures. Passei verdadeiras tempestades, em que o bom tornava-se mau e a maldade começava a ter um gosto divinal.

Eu via-te constantemente, estivesse eu de olhos abertos ou fechados, tu estavas lá. Estavas na rua, estavas em cada carro que por mim passava, em cada esplanada em que um riso se soltava, em cada jardim que uma flor florescesse, em cada mulher que o seu cabelo encaracolado dançasse ao sabor do vento. Estavas no meu quarto, no meu computador, no meu telemóvel. Eu fechava os olhos e tu estavas lá, sempre estiveste em mim. Tão perto e tão longe ao mesmo tempo.

Eu, perdi a fé. A esperança fugiu no comboio mais rápido. E a felicidade morreu em alto-mar.

Hoje, encontro-me na marina. Está frio e o rio está meio bravo. As luzes que percorrem os passadiços onde se encontram os barcos, estão agitadas. Estou onde os ventos se esbarram e as águas lutam entre si. Sinto o vento, sinto o tempo a esfriar, sinto a força da água, consigo sentir tudo. Tudo, menos a tua presença.

Quanto mais foco o olhar no objecto mais distante desta cidade linda que tenho pela frente, inocentemente as memórias que já naufragaram e no fundo permaneceram, começam a vir à tona como se eu fosse um farol sinaleiro e no meio do nevoeiro avistasse as luzes de um navio. A pouco e pouco, tornando-se mais nítidas, eu sofro.

Sofro e não é pela distância.
Sofro e não é por saber que não faço falta.
Sofro, por saber que tens alguém. Que alguém te tem. Que esse alguém não sou eu. Que arranjaste um porto-seguro e eu nunca passei de uma âncora. Eu sofro, e afundo-me nas minhas próprias lágrimas...

‘A dor da perda, só não é maior que a dor da partida, porque não se perde o que não se tem. Mas nos perdemos na dor, quando o que parte é um grande amor.’

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